Artigo

Há menos sono no Rio Grande do Sul agora

Por Filipi Vieira Amorim
Biólogo e Filósofo, Doutor em Educação Ambiental

Em setembro de 1930, Stefan Zweig escreveu: "Tem sempre que acontecer algo violentamente avassalador para que o pensamento egocêntrico do homem seja desviado dos próprios interesses para os da coletividade. Assim, os sonolentos despertam agora de novo, assustados esfregam os olhos e se perguntam, surpresos, como é possível". Lamentavelmente, tem sempre que acontecer algo, mas até quando? Seria importante sabermos, porque a expectativa de que possa acontecer algo tem tirado o sono de um Estado inteiro. Aliás, quando a Primeira Guerra Mundial começou, em 1914, Zweig disse: "há menos sono no mundo agora". Há menos sono no Rio Grande do Sul agora. No fim das contas, os (con)textos se aproximam da percepção da maioria das vítimas: é um cenário de guerra.

E os dias se vão passando e a apreensão permanece acompanhada da dúvida: quando acontecerá o próximo algo? Até quando viveremos e passaremos por esses algo sem que ninguém seja responsável e responsabilizado? Até quando creditaremos a tragédia, o terror e o horror aos desígnios de uma natureza supostamente revoltada, ou de um deus supostamente caprichoso que nos quer ensinar algo? No telejornal, relatos de que nas escolas do Brasil as crianças rezam pelo Rio Grande do Sul. Isso nos comove e dá forças. É um alento: um sopro de esperança que chega com a solidariedade de um país inteiro. Oxalá chegue o dia em que, na escola, além de rezar as crianças também aprendam política.

Disseram que não é hora de politizar, não é hora de apontar culpados. Depois de tudo, quem não fez o que deveria ter feito quer agora dizer o que devemos fazer (e espera que façamos o que não é nossa responsabilidade). Quando abrirão editais para a contratação de profissionais qualificados para o trabalho necessário nos abrigos? As pessoas estão cansadas, exaustas, o voluntariado acabará. É preciso exigir que o Estado e quem governa faça seu trabalho e assumam suas responsabilidades. Para que a História não se repita como tragédia, deve acabar a farsa de outras agendas.

Depois de 30 dias, ainda há outras agendas? Outras agendas, a gente entende... tem sempre que acontecer algo. Há menos sono no Rio Grande do Sul agora.

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